terça-feira, 22 de maio de 2012

# Notas sobre cultura



por Victor Breno


Como a cultura opera sobre nós? De que forma exerce influência ou nos afeta? Seguindo o raciocínio do antropólogo brasileiro Laraia, destacam-se as seguintes dinâmica da cultura:

1.      A cultura condiciona a visão de mundo do homem

A cultura funciona como lente através da qual se enxerga e interpreta a realidade. A cada cultura uma lente lhe é própria, de modo que, existem diversas e multiformes maneiras de se entender a realidade.
As programações morais, valorativas e comportamentais a nível social são resultado de determinada estrutura cultural. Aqueles aos quais esses caracteres culturais não são obedecidos, recorrentemente são reprovados no seu modo de vida.
Devido a esse modo condicionante de interpretar a realidade, universalmente se percebe um elemento que invalida o diferente valorativamente e gera por vezes violência e intolerância: o etnocentrismo.

2.      A cultura interfere no plano biológico

Também, a cultura interfere no modo como os indivíduos e sociedades relacionam-se com sua dimensão corpórea. A cultura pode inclusive manipular elementos do inconsciente do indivíduo a ponto de interferir nas operações biológicas das mais simples até as mais complexas, citando, por exemplo, o caso das curas.

3.      Os indivíduos participam diferentemente de sua cultura

Não é possível ao indivíduo apropriar-se de todos os elementos de sua cultura. Cultura essa que na maioria das vezes tem um forte tom masculino. Um ponto interessante é que os acessos a conteúdos mais profundo da cultura somente são permitidos em decorrência de fatores etários.
É justamente pela não capacidade de endoculturação plena que se oferece ao indivíduos brechas de oportunidades da manifestação criativa de reformulação ou criação de novos elementos culturais. Mesmo não sendo capaz de articular todos os códigos sociais da sua cultura, cabe o indivíduo cultivar um mínimo suficiente de conhecimento de sua cultura para sustentar seu status e ordenar e regulamentar sua vida com os outros.
4.      A cultura tem uma lógica própria

A cada cultura pertence uma coerência lógica própria. Cada cultura deve ser entendida dentro das estruturações lógicas próprias que lhe conferem coerência e articulabilidade. Não se pode transplantar modelos lógicos nas analise da cultura alheia.
Não existe assim, culturas de níveis diferentes, como se houvessem sistemas universais de ascendência evolutiva, mas sim, simultaneidades culturais independentes dentro da história humana. A cultura ordena a sua lógica seu mundo circunscrito de determinada classificações interpretativas da realidade.

5.      A cultura é dinâmica

Diferentemente de como um leigo poderia julgar a estaticidade de um determinado povo, o antropólogo, a partir de uma acurada análise observatória, percebe as transformações ocorridas não só no seu espaço cultural mais também a todos os outros ambientes com os quais tem a oportunidade de observar e assim chega à conclusão de que não existem culturas estáticas. Faz parte do próprio modo de ser das culturas a dinâmica, que gera mudanças, transformações e que podem ocorrer pelos mais diversos fatores e nas mais variadas ritmos de mudança.
Basicamente a dinâmica cultural pode se dar de duas formas: as mudanças internas e as mudanças externas. As mudanças internas são aquelas que se dão dentro do contexto social e filosófico de um mesmo povo, normalmente seguindo um processo lento e muitas vezes de difícil observação. Já as mudanças externas se dão quando há o encontro com outras culturas e daí gera-se novas reformulações culturais num processa mais acelerado. A compreensão desse caráter mutatório da cultura é importantíssimo para que se possam evitar conflitos geracionais.

terça-feira, 8 de maio de 2012

# Mircea Eliade: anotações sobre um estudioso do religioso


por Victor Breno

Um dos mais importantes fenomenologos da religião dos últimos séculos é Mircea Eliade. Por meio de uma vasta obra literária esse autor merece atenção especial pela fenomenologia da religião por desenvolver categorias de interpretação da realidade religiosa que contribuíram para as posteriores análises e pesquisas.
Um dos principais livros de Mircea Eliade, e que resume a totalidade de seus conceitos e métodos de análise, é o livro O Sagrado e o Profano. Nele o autor procura através de uma descrição comparada das religiões demonstrar que existe um fio condutor, um elemento que pode ser sublevado, que perpassa a todas as religiões de todas as épocas e que constituiria a “essência” das religiões.
 É a realidade do sagrado e do profano. Essa categoria é perceptível nas mais diferentes e diversas religiões e é também útil no entendimento da organização e dos sentidos religiosos para o homos religiosus.
Para Eliade, sagrado e profano constituem as essências das religiões. Segundo ele, sagrado e profano são duas realidades distintas, todavia, que só podem ser compreendida uma pela a outra e na sua correlação mútua. Assim, se tem duas modalidades de experiência religiosa, a sagrada e a profana, isto é, dois modos de ser-no-mundo, duas situações existenciais assumidas pelo homem.
      A experiência religiosa surge na existência humana como manifestação do sagrado (hierofania/cratofania), algo que se apresenta em oposição ao profano, mais é justamente nessa realidade profana que o sagrado aparece ao indivíduo religioso. A experiência religiosa é fundante para o estabelecimento do mundo.
Seguindo uma analise da manifestação do sagrado, Eliade percebe que a dimensões comuns e características desse ser-no-mundo. Desse modo, o autor aborda temas como a questão da espacialidade, temporalidade, a sacralidade da natureza, bem como a existência humana e a vida santificada.
Em relação ao espaço, esse não se apresenta homogêneo para o homem religioso, existem distinções essenciais entre os espaços sagrados e os não sagrados. Para esse indivíduo, o espaço sagrado é que realmente existe porque ele “funda o mundo” dando um referencial de existência e tornando-se o centro do mundo, lugar do encontro com esse sagrado.
Na estrutura temporal, Eliade compreende que esse tempo sagrado é o tempo reversível, um tempo mítico primordial, um tipo de tempo original que acontece fora da temporalidade e, que está presente e está a todo momento representando a reatualização de um evento sagrado.
Também, as estruturas do mundo revelam a sacralidade que existe na natureza. Eliade argumenta que o quando o homem religioso contempla o mundo como se apresenta, ele descobre múltiplos modos do sagrado ali. Por meio de hierofanias cósmicas os elementos naturais se travestem de sentido sacral, conferindo significado para o homem religioso.
Existe também uma abertura singular no ser religioso que o faz trans-humano. Assim ele ultrapassa sua limitada condição e abre-se para o mundo dos deuses e do sagrado em geral. É de forma paralela acompanhada por rituais de passagem e de iniciação na realidade religiosa.