sábado, 19 de novembro de 2011

Saiu o(a) Ganhador(a)!


É com muito prazer que o Blog Os Pensées® quer divulgar e parabenizar a ganhadora da promoção do sorteio de um livro do filósofo e matemático Blaise Pascal.
A ganhadora é a seguidora: GLEICY SALES.
Estaremos fazendo os devidos contatos para o envio do livro o quanto antes.

O sorteio foi feito por ALESSANDRO FLUGEL, na noite do dia 18, como o combinado. Segue um vídeo do sorteio:


A todos os membros que se cadastraram e concorreram ao livro, os nossos muito obrigado pela parceria e ajuda que nos tem dado.

um grande abraço e até o próximo post! 

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Lista de nomes dos seguidores que estarão concorrendo o livro referente a promoção de lançamento do site

   Olá Pessoal. No início do nosso blog, fizemos uma promoção para as 30 primeiras pessoas que se tornassem seguidores do mesmo. A promoção consiste no sorteio de um livro do autor Blaise Pascal, o qual inspirou o nome deste blog.
   Para isso, divulgamos aqui os nomes dos primeiros trinta seguidores do nosso blog. Junto com os nomes, discriminamos um número - de 01 a 30 - para cada participante, pois no dia 18 de novembro realizaremos o sorteio.
O sorteio será realizado no site www.random.org
   Através de um programa que grava o que está sendo acessado na tela do computador, iremos gravar o momento do sorteio e disponibilizar o vídeo para que não haja dúvidas quanto ao sorteio.
   Convidamos a todos, além de serem cadastrados como seguidores, que também leiam as postagens, pois este é o objetivo primeiro do nosso espaço interativo. Além disso, comentem os posts e os divulguem.
   Também, pedimos ajuda de todos para que possamos divulgar este blog para o maior número de pessoas possível.
Obrigado.

Membros do blog OS PENNSÉES:

1   JOIMILLY PINTO
2   MONIKA SANTOS
3 BIGA
4 TIXTA
5 PRISCILA PRATES
6 PÂM E RODRIGO
7 GLEISSON ALVES
8 LÍBIINA CARVALHO
9 CLAUDIO
10 JOY OF GOD
11 JULIANA NASCIMENTO
12 DÓCIL
13 ALINNIE DAMASCENO
14 PETTERSON OLIVEIRA
15 DUYANNE RODRIGUES
16 JONATHAN HERCULANO
17 VINICIUS SALES
18 ADA DAMASCENO
19 GORETE CARVALHO
20 GLEICY SALES
21 GEORGE GONSALVES
22 MIRIAN QUÉSIA CASIMIRO BOTELHO PINHEIRO
23 LINDA VERA
24 GIANE SANTOS
25 BLENDA ALMEIDA
26 ROGERIO RIBEIRO
27 JESSICA LORRANNY
28 RICHARD NIKSON
29 JARLENE PEREIRA
30 GESIEL

Contradição teológica - Teologia é pecado/Uso teologia

Por Alessandro Arlan FLugel

Muitos já ouviram estas frases em suas igrejas, em conversas paralelas ou em outros meios. As frases são: “não precisa de teologia”, “não tenho hermenêutica”, “não tenho homilética”, etc.
Recentemente, ouvi uma pregadora no decurso de sua mensagem, em uma autoproclamação de sua humildade (?), declarar “não tenho teologia e não tenho hermenêutica”. Confesso que já ouvi isso muitas vezes, mas desta vez fiquei constrangido, tanto é que, ao final do culto, confessei a dois amigos que estava cansado disso. Ou seja, cansado de ouvir pessoas afirmarem dos púlpitos que o estudo não é importante.
Realmente, esta suposta pregadora não tinha teologia, pois ficou evidente na sua mensagem. Mas o fato é que, ela não disse que não tinha teologia e hermenêutica, no sentido de considerar importante tais ferramentas e não ter conseguido até então se apropriar delas. Pelo contrário, disse que não as tinha pelo fato de desconsiderá-las, de colocá-las até mesmo em um patamar de pecado.
Infelizmente, no meio pentecostal, se fomentou um forte anti-intelectualismo que perdurou por gerações e que em “determinados” lugares ainda existe. Muitos, preocupados apenas com a volta de Cristo e com a morada nos céus, esqueceram que estavam vivendo na terra. Deste modo, até mesmo o estudo secular foi reprimido.
A frase típica que servira como lema deste pensamento foi o texto da segunda carta do apóstolo Paulo a igreja de Corinto, capítulo três e versículo seis (parte final do versículo), que diz: “porque a letra mata, mas o Espírito dá vida”. Este versículo foi usado erroneamente para dizer que o estudo teológico formal não era necessário e que até mesmo iria minar a fé daqueles que empenhassem tal ato. Porém, como sabemos, o contexto do versículo mostra que a letra simboliza a Antiga Aliança, e o Espírito, a mensagem do Novo Testamento.
Em pleno século XXI, ainda encontramos declarações feitas dos púlpitos de nossas igrejas que passam uma mensagem de rejeição ao estudo formal. Pior ainda é o grande número de pessoas que são iludidos com estes jargões. Por exemplo, basta um pregador, durante sua pregação, dizer em um tom de seriedade que “não estudou teologia” ou que “não tem hermenêutica”, que grande parte de seus ouvintes vão ao êxtase. Entretanto, de todos aqueles que ouvi proferirem estas palavras, não ofereceram nenhum conteúdo realmente bíblico e edificante. Lógico, não incluo aqui aqueles que evidenciam em sua mensagem que a ação do Espírito Santo é superior a qualquer estudo, sem necessariamente desmerecer o estudo em si.
 Em tudo isso, o que mais me indigna é o fato daqueles que proferem tais palavras, as proferirem sem se quer saber que necessitam da teologia, mais ainda, que são agentes teológicos, mesmo que sejam “teólogos anônimos” (expressão utilizada pelos autores GRENZ E OLSON no livro: Iniciação à teologia/Editora Vida). Teólogos anônimos, pois todo ser humano já passou por momentos em que busca um real sentido para a sua vida. Nestes momentos, as perguntas existenciais são feitas facilmente e estas quase sempre nos levam a teologia. É normal as pessoas se perguntarem o que vai acontecer com elas após a morte ou se realmente existe um Deus. Ao fazerem isso, mesmo sem saber, estão teologando, ou seja, fazendo uso desta ciência chamada teologia. Em suma, as pessoas fazem teologia mesmo sem se proclamarem teólogos ou saber que o que fazem é refletir teologicamente.
De acordo com a antropologia, o ser humano é um ser religioso. Assim, tem intrínseco em si o ato de adorar uma divindade ou de responder questões quanto a sua própria existência. Segundo Ferreira e Myatt (Teologia Sistemática/Editora Vida), este sentimento religioso apregoado em todos os seres humanos é algo incurável. Com isso, reflexões teológicas são feitas a todo instante e em todos os lugares, mesmo que, os agentes teológicos, sejam anônimos e que suas reflexões não sejam compartilhadas.
Teologia não é tarefa apenas de teólogos de ofício. Por outro lado, há diferenças entre o exercício da teologia pensada pelo povo em geral, em relação à teologia elaborada por aqueles que são teólogos por formação. Ou seja, o cristão enquanto pensa sua fé faz teologia de um modo elementar, diferentemente do teólogo de formação que se apropria de ferramentas e métodos próprios para seu exercício teológico.
O fato é que, até mesmo aqueles que criticam o estudo formal da teologia e suas ferramentas, acabam por utilizá-la. Basta apenas um pouco de reflexão para concluirmos que todos nos necessitamos da teologia e daqueles que se dedicam ao estudo. Por exemplo, muitos declaram que não precisa saber grego e hebraico, porem se esquecem de falar que não “precisa saber grego e hebraico”, graças ao trabalho anterior de exegetas, linguistas, revisores teológicos e tradutores que dedicaram ate mesmo anos de trabalho no processo de tradução dos idiomas originais de compilação do texto sagrado para o nosso idioma. Se não fosse o trabalho destas pessoas, nem o texto em seu idioma – que mesmo assim em muitas vezes é lido e interpretado de forma errada – tais pessoas teriam para lê-lo.
Também, escutei muito no seminário e ainda escuto ou leio por aí, que o teólogo não deve se esquecer da Bíblia em detrimento dos livros, na prerrogativa de que alguns quando entram para o exercício teológico, acabam se distanciando da fonte de revelação Divina, denominada Bíblia. Sinceramente, nem considero esta frase quando a ouço ou a leio. Não que eu não considere a Bíblia Sagrada como fonte de revelação Divina, mas é que o “teólogo cristão” já parte do pressuposto que a Bíblia é o principal fundamento para seu exercício teológico. Ou seja, se há indivíduos que acabam por desprezar as Escrituras por outras fontes, eles podem até ser chamados de teólogos, mas não de teólogos cristãos.
Creio que já passou da hora de nos determos ao estudo comprometido com as Sagradas Escrituras, seja em estudo formal ou informal. O próprio Cristo nos disse, “conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (João 8:32). Em suma, são muitos os autores e textos que nos mostram a importância do estudo sistemático das Escrituras, mas este texto tem como objetivo mostrar as contradições daqueles que criticam o estudo, mesmo se utilizando deles.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

# A modernidade e as amplas prateleiras do mercado religioso - por Ed René Kivitz

Segue na íntegra o texto publicado pelo pastor e teólogo brasileiro Ed Rene Kivitz no seu site [http://edrenekivitz.com/blog/]



14 out
   O aspecto mais relevante do novo cenário religioso no Brasil revelado pelas pesquisas recentes é o surgimento de uma nova personagem: o religioso não institucionalizado, que busca uma experiência de espiritualidade não tutelada pelas hierarquias das religiões formalmente organizadas em termos de dogmas, rituais e códigos morais. Vivemos os dias da religião sob medida, montada por consciências individuais que misturam os ingredientes disponíveis nas prateleiras do mercado religioso.
   O sociólogo Otto Maduro define religião como “conjunto de discursos e práticas referentes a seres superiores e anteriores ao ambiente natural e social, com os quais os fiéis desenvolvem uma relação de dependência e obrigação”. As ciências da religião sugerem que as religiões se estruturam com base em dogmas, rituais e tabus, isto é, crenças adotadas como verdades inquestionáveis, celebrações litúrgicas em homenagem e devoção às divindades, e regras de comportamente moral que acarretam benesses ou maldições. A modernidade não conseguiu acabar com a relação de dependência e obrigações, pois o ser humano é essencilamente assustado com a ideia da morte, atormentado pela sua finitude, encurvado pelo peso de uma culpa ancestral, apovarado ante o mistério da imensidão do Cosmos, e perdido em termos de sentido para a existência. Por essa razão, buscará sempre seus deuses, fabricará seus ídolos e se curvará diante disso que Rudolf Otto chamou de mysterium tremendum, a que damos o nome de Deus.
   Mas a modernidade destruiu, sim, a religião como sistema de dogmas, rituais e tabus. O conceito de modernidade nos remete à segunda metade do século XVIII, com a revolução industrial – capitalismo, ciência e técnica, urbanismo, desenvolvimento ilimitado, e a revolução democrática sensível aos direitos humanos, e principalmente ao conceito de indivíduo e ao descobrimento da subjetividade, que afirma a consciência individual acima de qualquer autoridade, e liberta o indivíduo de sua dependência das instituições sociais, inclusive e principalmente religiosas.
   Este ideário moderno exige dois outros aspectos da individualidade: a autonomia e a racionalidade. Autonomia – a lei em si mesmo, fala da capacidade do indivíduo agir movido e orientado por sua própria consciência, assumindo, portanto, a responsabilidade pelos seus atos. Implica todo poder normativo subordinado à consciência individual, e conseqüentemente a rejeição de todo poder arbitrário e dogmático, quer seja ele representado por um Estado ou governo, uma ideologia ou religião, ou mesmo uma divindade ou em última instância Deus. O princípio cartesiano “penso, logo existo” explica o Iluminismo como esclarecimento racional, em oposição ao dogmatismo fundamentalista e obscurantista.
   O resultado desse processo é que a modernidade, apesar de avanços significativos – o pluralismo ideológico, a abrangência da educação, a superação da superstição e a emancipação da ciência, também significou racionalismo, individualismo, humanismo, e secularismo – a religião fora do espaço público e o universo vazio do divino e do sagrado. A modernidade deu origem a “ismos” tão opressivos e escravizadores das consciências e das massas quanto os “ismos” religiosos contra os quais se levantou.
   A verdade é que os avanços da ciência, da técnica e da razão, que em tese deveriam construir um mundo melhor, promover a justiça e a paz, e apontar caminhos para a felicidade e a realização existencial do ser humano, de fato fizeram água. O saldo da modernidade é o rompimento com as instituições sociais religiosas e o abandono da pessoa humana à sua própria consciência e à mercê de sua liberdade. Mas ainda carregando no peito as mesmas questões que afligiam nossos antepassados. O vazio do universo implicou também um vazio de sentido (niilismo) e um vazio de critérios morais para ordenação da vida. Essa é uma das compreensões possíveis à denúncia de Fiódor Dostoiévski: “Se Deus não existe tudo é permitido”. Eis porque a experiência religiosa tutelada pelas religiões institucionalizadas se esvaziou, mas a busca pelas dimensões da espiritualidade cresce a olhos vistos.
   O rebote da modernidade é a chamada pós modernidade – ou hiper-modernidade, alta modernidade, modernidade tardia, modernidade radicalizada, modernidade líquida, seja lá como quiser chamar. O tempo se encarregou de desmascarar as pretensões da razão humana e fez as vezes dos profetas e sábios místicos que sempre insistiram em afirmar que a realidade é distante e profunda, e que o universo esconde mais mistérios do que é capaz de descernir a “vã filosofia”. O mundo atual se explica mais pelo recrudescimento dos fundamentalismos religiosos do que pela ausência de religião. Em resposta ao relativismo e ao niilismo moderno, a religião ressurge na pós modernidade com uma força avassaladora.
   Ainda que afetados por interesses geopolíticos e econômicos, o conflito entre Ocidente e Oriente não pode ser entendido nem terá solução sem uma clara comprensão das forças e implicações do embate entre o Cristianismo e o Islamismo como matrizes de sentido para as civilizações que sustentam. Alguns dos mais relevantes debates contemporâneos, quer sejam científicos, éticos, políticos ou econômicos são travados na arena religiosa: criacionismo versus evolucionismo como teoria a ser ensinada nas escolas, o aborto como questão moral ou de saúde pública, e os direitos civis dos homossexuais e as controvérsias ao redor das leis contra a homofobia, são exemplos recentes de conflitos entre os que acreditam na prosperidade social atrelada ao retorno aos valores religiosos da tradição judaico-cristã contra aqueles que defendem um estado laico e secular.
   Assim como em muitos de seus intentos, a modernidade fracassou também em acabar com a religião. A racionalidade científica e o secularismo obviamente não conseguiram provar que Deus não existe, pois Deus não é variável epistemológica, isto é, Deus não é passível de verificação em testes de laboratório. Mas a modernidade conseguiu ainda que temporariamente desferir um duro golpe nos representantes de Deus, notadamente as instituições religiosas e seu clero. A experiência religiosa já não se resume à obediência cega aos dogmas e à hierarquia institucional. A sociedade moderna não abandonou Deus, mas colocou seus intérpretes e seus representantes coletivos sub judice. Deixou de lado as tradições e seus necessários hábitos, costumes e crenças. E partiu para uma viagem pessoal e particular rumo à religião privatizada e a uma experiência de fé à la carte.
   As massas decepcionadas com a modernidade e suas promessas voltam a correr para as categorias do sagrado, do transcendente, e do divino. Nos países do chamado terceiro mundo a religião nunca saiu de moda. Conceitos como modernidade e pós modernidade passam longe dos dilemas de quem vive na pobreza e na miséria extrema. Os resultados das últimas pesquisas a respeito do cenário religioso no Brasil indicam que com sua mensagem que enfatiza o poder do Espírito Santo e a interferência de Deus no cotidiano das pessoas, as igrejas evangélicas crescem sem parar. Motivados pela busca de solução para seus problemas pessoais e dificuldades de inserção na sociedade, as massas se convertem à esperança prometida pela religião. As pessoas trocam de religião ou de credo em virtude de questões como desemprego, doenças na família, problemas conjugais, perdas significativas e sofrimento intenso, e também e principalmente a solidão e a necessidade de sentido existencial. Quem não tem para onde correr, corre para Deus. Os que sabem disso e não têm escrúpulos em se aproveitar da fragilidade de quem sofre são protagonistas de um processo nefasto que mantém acesa a fogueira da religião entendida no pior de seus sentidos.
   O atual retrato da fé permite a afirmação de que, se é verdade que as instituições religiosas estão abaladas, Deus continua vivo como sempre, e adorado – ou idolatrado – como nunca.
[Publicado originalmente no jornal Valor Econômico, 14 de outubro de 2011]


quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Princípios de Espiritualidade da Reforma que Precisam ser Reformados em nós


Por Alessandro A. Flugel

Esta semana comemoraram-se mais um aniversário da Reforma Protestante, especificamente, dia 31 de outubro. Como se sabe, a reforma protestante foi um marco na história do cristianismo, pois a partir dela nasceram às chamadas igrejas protestantes ou, como mais conhecidas hoje, as igrejas evangélicas.
Apesar de grande parte dos cristãos protestantes não conhecerem a fundo a sua história, não quero me deter em relatos históricos do evento, mas sim, quero falar sobre alguns princípios de espiritualidade encontrados na reforma, que podem – e precisam – ser pregados em nossas igrejas atuais.
No cenário religioso da época, a igreja católica pregava aos seus fiéis que, a justificação de fato devia ser merecida e que, para se alcançar isso, os fiéis teriam que passar pelo batismo, fazer obras de caridade e ter uma vida completa de penitências. No caso, a justificação era um processo, onde se iniciava com o batismo e, de acordo com a forma de viver do indivíduo – sacramentos, boas obras e penitências – chegaria um dia que de fato a pessoa em questão seria merecedora da salvação. Ou seja, em dado momento da história, esta pessoa chegaria a um estado elevado de “santidade” que realmente deixaria de ser pecador.
Com isso, criava-se um ambiente de culpa, pois seria quase que impossível às pessoas alcançar salvação, pois realmente teriam que merecê-la, mediante os sacramentos e conforme suas obras – algo que é impossível ao ser humano devido a sua natureza pecaminosa. Martinho Lutero, por exemplo, se confessava várias vezes ao dia, autoflagelava-se, jejuava até quase morrer de fome, além de dormir em um chão frio, tudo com o intuito de sacrificar sua carne e de fato merecer ser justificado.
Aproveitando-se dessa culpa falsa que a própria igreja fomentou, criou-se um sistema onde a igreja daria uma mãozinha aos seus fiéis para que eles alcançassem justificação. Para isso, eles apenas teriam que pagar as indulgências.
Mas o que eram as indulgências? Era uma espécie de passaporte para o céu, onde o indivíduo pagava um determinado valor à igreja, tendo assim, os seus pecados perdoados. Para se ter ideia da dimensão que o negócio das indulgências chegou, leia a citação abaixo – é longa, mas esclarecedora.

“o arcebispo Alberto (1490-1545), príncipe da Casa dos Hohenzollern, que já controlava duas províncias da Igreja Romana, lançou seus ávidos olhos sobre o arcebispado vancante de Mainz em 1514. Por ter apenas 23 anos de idade e por ser proibido pela lei canônica a alguém ter mais de um cargo, ele teria de pagar uma grande soma ao papa Leão X para as devidas dispensas pelas quais poderia acumular as funções. Felizmente para ele, o seu desejo de ocupar também o arcebispado de Mainz coincidiu com a necessidade de dinheiro que tinha o papa Leão X para construir a atual catedral de São Pedro em Roma. Alberto receberia a permissão para tomar o arcebispado de Mainz desde que pagasse ao papa outra grande soma. Já que essa soma pertencia ao campo das altas finanças, o papado sugeriu a Alberto que tomasse o dinheiro emprestado dos ricos Fuggers, família de banqueiros de Augsburgo. Uma bula papal, autorizando a venda de indulgências em determinados estados germânicos, foi apresentada como garantia de que Alberto pagaria o empréstimo aos Fuggers. Leão X recebeu a metade, e a outra metade seria repassada para os Fuggers” (CAIRNS, 2008, p. 255-256).

Percebe-se, que a mãozinha criada pela igreja católica para ajudar seus fiéis a obterem salvação, na verdade, era uma mãozona para si mesmo. Afinal, inúmeras quantias de dinheiros foram arrecadadas mediante a venda de indulgências. O absurdo era tamanho, que até mesmo se vendia indulgências para os familiares de pessoas já mortas, pois se pregava que estas pessoas estavam no purgatório e que, mediante a compra de indulgências por seus familiares, esses mortos sairiam do purgatório, indo para o paraíso.
Para se fundamentar o mercado financeiro das indulgências, dizia-se que “Cristo e os santos tinham alcançado tanto mérito durante suas vidas terrenas que o excedente estava guardado no tesouro celestial do mérito, de onde o papa poderia sacar no interesse dos fiéis vivos” (CAIRNS, 2008, p. 256).
Atormentado com essas práticas sem qualquer fundamentação Bíblica, Lutero contesta tais atitudes, mediante o fundamento sola gratia. Lendo as escrituras, – algo que o povo em geral não tinha acesso – principalmente o livro de Romanos, Martinho percebe que a Salvação é alcançada somente através da graça de Deus, mediante a fé – sola fide.
Deste modo, Martinho Lutero propaga que as indulgências de nada servem para o indivíduo ser justificado. Também, Lutero mostra que as boas obras também de nada servem para computar créditos a quem quer que seja visando à salvação. Tampouco, as obras penitenciais, como no caso a autoflagelação. No caso, as boas obras têm um papel de evidência da fé de cada pessoa em Jesus, que o leva até a Graça da salvação. Ou seja, as obras de nada servem para se chegar à salvação, mas elas demonstram se de fato determinada pessoa possuí uma fé genuína em Cristo que lhe outorgue salvação.
Assim, Lutero colocou em evidência o absurdo soteriológico[1] que a igreja católica impunha sobre seus fiéis, demonstrando que em nenhuma hipótese o ser humano consegue se autojustificar, seja com obras, com indulgências, com penitências. O único modo de sermos justificado é através da graça de Deus, mediante a nossa fé em Jesus.
Falando de espiritualidade, observamos como esta imposição da igreja católica aos seus fiéis, quanto ao se alcançar à salvação, teve implicações tamanhas na espiritualidade do povo da época. Criou-se uma culpa falsa no psicológico daquelas pessoas, fazendo que o seu modo de viver se voltasse ao como seriam salvas, ao o que teriam que fazer e ao quanto teriam que pagar para serem salvas. Deste modo, a espiritualidade de cada indivíduo fundamentava-se no como viver e no que fazer para que um dia se chegasse à salvação, ao contrário de uma espiritualidade sadia que, primeiramente se fundamenta na salvação e a partir desta salvação se vive e se faz.
Atualmente, no cenário religioso brasileiro, especificamente no pentecostal, fomenta-se a mesma culpa falsa, através de padrões de santidade que são impostos como que necessários para que o indivíduo alcance salvação. Deste modo, padrões de costumes, falar ou não em línguas (como evidencia física do batismo com o Espírito Santo), entre outros, são tidos como as principais características que demonstram se o indivíduo realmente é justificado.
Infelizmente, gostamos de apontar os erros do nosso semelhante, de colocá-lo em disciplina, como se a disciplina fosse capaz de perdoar o pecado do mesmo. A missão de Deus e o Reino de Deus são maiores que a igreja. A igreja existe por causa da missão de Deus no mundo. Assim, nossas igrejas devem ser lugar de acolhimento, não de diferenciações e imposições de padrões de santidade.
Não há nada que alguém possa fazer para que seja justificado, a não ser a Graça de Deus mediante a fé em Cristo. Assim, nem mesmo o dízimo de qualquer pessoa, independente de valor, jamais terá o poder de salvá-lo – certa vez ouvi um suposto pastor falar que se a pessoa não dá o dizimo não vai ser salva.
Se tivermos este princípio que só a graça de Deus mediante a nossa fé em Cristo pode nos salvar, creio que nossa espiritualidade será liberta, pois não teremos mais esta culpa falsa imposta sobre muitos, onde se dita regras e costumes propondo a salvação. Como já falei, não devemos conduzir nossa espiritualidade como algo que temos que fazer ou ser para que no final alcancemos salvação. Uma espiritualidade integral se dá quando temos fé em Cristo, quando percebemos que a graça de Deus nos alcançou e, a parti daí, vivemos e somos no mundo.
Por isso, não deixe que ninguém imponha sobre você um julgo que nem ele mesmo possa carregar. Seja alcançado pela Graça de Deus, tenha fé em Cristo.


REFERÊNCIA

CAIRNS, Earle Edwin. O cristianismo através dos séculos: uma história da igreja cristã. São Paulo: Vida Nova, 2008.



[1] Soteriológico: que vem de Soteriologia, que dentro da teologia sistemática, concerne ao estudo da Salvação.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Reformulando: Comentários a propósito de mais um aniversário da Reforma Protestante (PARTE I)


Por Victor Breno

Ontem (31/10) se comemorou entre os protestantes por quase todo o mundo mais um ano (agora contabilizando 494 anos) de Reforma Protestante. Este foi um evento de importância singular para a construção sociorreligiosa dos movimentos cristãos subsequentes, em especial aos protestantismos, sob o solo de um novo suporte teológico mais bíblico. E como este primeiro post surge relacionadamente com está data significativa, gostaria de fazer alguns comentários a respeito (PARTE I), sem me prender a detalhamentos históricos e teológicos, e por fim (PARTE II), buscar possíveis aplicações.
Primeiramente vale situar o fenômeno historicamente. Podem-se observar dentro da história da cristandade três grandes cismas:
- 1054: a divisão entre as Igrejas do Ocidente e do Oriente;
- 1378 a 1417: na idade média a luta entre os papas Urbano VI, Clemente VII e logo após Bonifácio IX;
- 1520: exoneração de Lutero pela igreja de Roma;
A religião cristã sempre foi palco de tensões teológicas e autoritativas durante sua construção histórica. Todavia, às vezes esses embates ganhavam proporções maiores devido a diversas confluências históricas ao ponto de escaparem ao regimento administrativo de suas lideranças. Com isso, ocorreram os cismas, movimentos de ruptura interna que visavam uma reconfiguração do status quo em vista de seu alegado estado de corrupção e descontinuidade com a tradição bíblica.
A chamada Reforma Protestante, como terceiro grande cisma da cristandade, localiza-se historicamente dentro de um quadro mais amplo de referência conhecida como o período das Reformas. No mosaico dos eventos reformistas do século XVI, quatro grandes movimentos são identificados, a saber: a reforma luterana, a reforma reformada (calvinista), a reforma anabatista e a contrarreforma da igreja católica, sendo esta última não importante dentro da nossa discussão. As duas primeiras são chamadas de Reformas Oficiais e a terceira chamada de Reforma Radical, pois implicava um desligamento submitivo ao Estado.
Diferentemente do que talvez se possa imaginar, a reforma protestante não foi um fato ocorrido especificamente em uma data (1517). Foi resultado de um processo histórico cumulativo: o surgimento e a influência do humanismo, enfraquecimento do escolasticismo, o espírito do nacionalismo, desenvolvimento do capitalismo, o nascimento da imprensa e as práticas abusivas do clérigo católico. A partir dai se começou a evidenciar pequenos lampejos reformatórios aqui e ali por todas as partes na Europa Ocidental. Nomes, por exemplo, como o de John Huss já sinalizavam 100 anos antes um terrível incômodo com a realidade institucional e teológica da Igreja de Roma.
A protagonização dessas reformas a partir de 1517, com o afixamento das conhecidas 95 teses na catedral de Wittenberg, vem de nomes como os de Martinho Lutero, Ulrico Zuínglio e João Calvino. Mesmo sendo um movimento essencialmente religioso, a reforma protestante desencadeou subsequentemente várias transformações sociais, econômicas e culturais na Europa. A Reforma Protestante foi um movimento de revisão crítica do estado institucional e teológico da Igreja de Roma que buscou uma nova maneira, a partir do resgate de uma fundamentação mais adequadamente bíblica, de viver a fé cristã.
Muito embora a Reforma Protestante não tenha sido um movimento teologicamente e geograficamente homogêneo, emergem como já bem conhecidos, os princípios protestantes que delimitam seus marcos teológicos em relação à doutrina normativa da cristandade ocidental (Igreja de Roma):
# sola Gratia et Fides (a salvação proporcionada exclusivamente pela graça mediante a fé)
# sola Scriptura (Supremacia das escrituras em relação às autoridades eclesiásticas e das práticas cristãs)
# Sacerdócio universal de todos os crentes.
Vale destacar também que no âmago das desavenças entre os clérigos católicos e os reformadores, estava à problemática soteriologia. Os reformadores criticaram o sinergismo extremado no qual conferia ao sistema indulgenciário e meritório e a intermediação da igreja católica os caminhos para se alcançar a salvação. Destacado o solus Christus, os reformadores enfatizaram a mediação única e exclusiva de Cristo para salvação em contraposição ao exclusivismo eclesiocêntrico da Igreja de Roma.
Surge, deste período, diversas confissões de fé com o intuito de fincar bandeiras teológicas específicas de cada movimento em particular, mais dentro do já visto consenso doutrinário protestante. Aparecem também nesta época, os elaborados manuais sistemáticos de teologia, com o intuito de organizar os dados da revelação bíblica de maneira coerente. Outro fato importante é que, com o acesso das escrituras sagradas na língua do povo, os “novos cristãos” tem a oportunidade ímpar, em relação à anteriormente, de ter um contato e conhecimento mais aprofundado da palavra de Deus.
Contrariamente ao desejo dos reformadores, a Reforma Protestante ao romper com a hegemonia cristã católica gerou um novo paradigma eclesial, o chamado denominacionalismo (Luteranos, Reformados e Anglicanos). Também lançou as bases para o período da pós-cristandade vivenciado a partir do Renascimento/Iluminismo e do pluralismo religioso atual.

Referências:
MCGRATH, Alister. Teologia sistemática, histórica e filosófica: uma introdução a teologia cristã. São Paulo: Shedd Publicações, 2005.
OLSON, Roger. História da teologia Cristã. São Paulo: Vida Nova, 2001.
CAMPOS, Bernardo. Da reforma protestante à pentecostalidade da igreja. São Leopoldo: Sinodal/CLAI, 2002.