quarta-feira, 28 de agosto de 2013

A santificação segundo a oração sacerdotal de Jesus - Jo 17:17-21




Por Victor Breno                                                            

No último final de semana tive a oportunidade de compartilhar do evangelho com um grupo de jovens batistas por ocasião do aniversário do grupo, na cidade de Sarzedo – MG. O tema do encontro foi “Anseio por Santidade”, um assunto que a meu ver tem sido entendido de forma um tanto quanto controversa pela cultura evangélica e justamente por isso sugestivo de reflexão. As linhas que se seguem são a tentativa de uma breve transcrição dos pontos principais da minha fala no domingo de manhã por título “A santificação segundo Jesus” a partir do texto de João 17:17-21.

A santificação segundo a oração sacerdotal de Jesus – Jo 17:17-21

A doutrina da santificação é um tema de extrema importância e centralidade na espiritualidade da vida cristã de acordo com o evangelho de Jesus. Por causa disso, é imprescindível que compreendamos adequadamente o que de fato significa a santificação a partir das escrituras. Para tanto, queremos primeiramente fazer algumas ressalvas a respeito de como a cultura evangélica no nosso país entende essa doutrina, para que em seguida tratemos, em contraste, a concepção de Jesus a respeito da santificação.
Entendemos que a cultura evangélica compreende equivocadamente o tema da santificação. Ao analisamos o conteúdo e lógica dos discursos, músicas e artefatos manifestos pelo mercado gospel e praticadas por um grande número de nossas igrejas ditas evangélicas, podemos notar pelo menos quatro acepções feitas concernentes à santificação:

1)      Esforço humano – pessoal - de aquisição de uma alta moralidade religiosa e vitalidade ritualística
2)      Condição espiritual para canalização ou bloqueio da “bênção” de Deus
3)      Status moral-religioso de alienação do mundo
4)      Estágio espiritual de acesso e relações privilegiadas com o mundo sobrenatural

De acordo com minha compreensão do evangelho, entendendo ser também não apenas uma constatação pessoal, mas o lugar-comum da tradição cristã a esse respeito, estes modos de conceberem a santificação encontram-se significativamente em oposição ao ensino bíblico a respeito do tema. Longe de desenvolver um estudo sistemático da doutrina bíblica da santificação (esforço necessário, mas reservado para outra oportunidade) quero expor alguns pensamentos, em forma de proposições, extraídos das declarações de Jesus em sua oração – convencionalmente chamada de a oração sacerdotal – registrada no evangelho de João 17:17-21.

João 17:17-21
17 Santifica-os na verdade, a tua palavra é a verdade
18 Assim com tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo
19 E por eles me santifico a mim mesmo, para que também eles sejam santificados na verdade
20 Eu não rogo somente por estes, mas também por todos aqueles que, pela sua palavra, hão de crer em mim
21 para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu, em ti; que eles também sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste

1)      A santificação é uma obra de Deus operada em nós: “Santifica-os...”
Está clara a luz da declaração do texto que Jesus compreende a santificação não como uma realização humana ou decorrente dos esforços pessoais de se adquirir determinado status perante Deus, mas que é o próprio Deus que por sua auto volição, em graça e misericórdia, empenha-se em desenvolver a santificação em nós. A Deus pertence à iniciativa, os meios e resultados da santificação.

2)      A santificação é uma operação libertadora de Deus para nós: “Santifica-os na verdade...”
A verdade de Deus não é uma ideia subjetiva ou um conceito abstrato, mas uma realidade espiritual de dimensões concretas, a saber, a libertação. João 8:32 registra: “e conhecereis a verdade e a verdade vós libertará”. A santificação que Deus desenvolve em nós não é opressora, mas libertadora. Essa santificação nos livra pelo menos de duas formas de escravidão: da tirania prescritiva da lei vétero-testamentária e do domínio do pecado sobre as esferas do ser e da vida humana.

3)      Somos santificados pela palavra de Deus que é o próprio Cristo: “Santifica-os na verdade, a tua palavra é a verdade”
A ‘palavra de Deus’ que santifica não é o objeto “bíblia” como que por meio de uma operação mágica realizada em nós pelo ler, decorar, assimilar o texto. A ‘palavra de Deus’ aqui é o próprio Jesus, como o Verbo encarnado de Deus em favor da humanidade. A palavra de Deus que santifica é o ser de Cristo misticamente sendo formado e assimilado em nós. É seu caráter sendo produzido nas nossas vidas a ponto de nos tornamos “santos como ele é santo”.

4)      A santificação é uma experiência vocacional: Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo”
Aqueles a quem Deus santifica, libertando-os para viverem conforme a imagem do seu filho Jesus, também são chamados a responsabilidade da missão. A santificação não é uma realidade alienadora e descompromissada, mas envolve assumirmos o chamado “...eu os enviei...”, seguindo um modelo “assim como tu me enviaste...”, para um lugar “...ao mundo”. A santificação reclama a experiência de encontrarmos nossa vocação no reino de Deus para glória do seu nome no mundo que ele nos chama a missionar.

5)      A santificação é imputada a nós por mérito de Cristo: E por eles me santifico a mim mesmo, para que também eles sejam santificados na verdade”
A santificação não é resultado da observância de uma alta moralidade religiosa ou do esforço pessoal de nos colocarmos numa relação de privilégios para com Deus, mas de assumirmos e recebermos a obra realizada por Cristo na cruz por nós. Somente pelo mérito de Cristo conquistada pela sua completa obediência a Deus em favor da redenção da humanidade podemos ser considerados santos. O mérito da nossa santificação advém da imputação de sua santificação a nós.

6)      A santificação é recebida unicamente pela fé: Eu não rogo somente por estes, mas também por todos aqueles que, pela sua palavra, hão de crer em mim
Não existem barganhas ou quesitos morais e religiosos para se receber a obra da santificação. Segundo Jesus, aquele que crer nele pode receber a santificação. É um ato de fé onde aceitamos pela fé a obra que Cristo já fez por nós.

7)      A santificação tem como objetivo a plena comunhão horizontal e vertical: para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu, em ti; que eles também sejam um em nós...”
Quando Deus nos santifica ele visa, assim como acontece na economia trinitária, estabelecer uma relação plena entre os indivíduos. As barreiras da inimizade são desfeitas e o ser humano pode ser reconciliado com seu próximo tornando-se irmão e seu responsável. Também a santificação restaura nossa comunhão com Deus, a luz da relação que Cristo tem com seu Pai. A santificação é uma obra e um convite a uma relação verdadeira com o próximo e de intimidade com Deus.

8)      A santificação desemboca finalmente no testemunho de Cristo ao mundo: ”...para que o mundo creia que tu me enviaste.”
A razão principal da santificação segundo Jesus não é fazer seres moral-religiosamente melhores para vanglória destes, mas que a santidade expressada através das suas vidas seja um tipo de espelho que reflete e aponta para o “santo”, que é Jesus Cristo. Esse critério nos desafia a avaliarmos nossa espiritualidade a partir da oração de Jesus por santificação dos seus, para que entendemos que a santificação termina sempre em testemunho, sinal, profecia e anúncio.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

# Experiência VERSUS Palavra de Deus



por Alessandro Flugel

Infelizmente no cenário Pentecostal valoriza-se mais a experiência em detrimento da Palavra de Deus. Qualquer espécie de experiência seja ela pessoal e/ou coletiva não serve como elemento fundante de dogma, costume, ou prática religiosa. Lógico, não estou desvalorizando as “experiências”, mesmo por que a nossa fé é mística, porém, não pode se tornar misticista. Neste sentido, qualquer experiência sobrenatural que se tenha ou que se presencie, deve sempre ser atestada pelos parâmetros bíblico-teológicos.
Assim, preocupa-me a exacerbada busca por fenômenos sobrenaturais/dons espirituais na prerrogativa que isso motiva, impulsiona, dá unção, etc. O que de fato precisamos é nos pautar na Palavra de Deus, pois dela vem poder de Deus, entendimento, compreensão, capacitação. Qualquer experiência sobrenatural e/ou dom espiritual desprovido de fruto do Espírito se torna vão. Torna-se apenas uma prática ativista.
Em suma, a Bíblia é a nossa única regra de fé e prática. Por isso, devemos ter cuidado para não fazermos leituras celetistas na Bíblia, buscando textos que embasem nossas experiências, pois se assim procedermos, certamente encontraremos.
Fica a dica, leiamos a Bíblia no todo, não escolhendo textos isolados para justificar nossas práticas.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Faces da modernidade religiosa: cenários e dinâmicas do campo religioso contemporâneo [PARTE 1]



por Victor Breno


A seguir, uma série de fragmentos textuais articulados em torno da problemática da modernidade religiosa. O produto, de caráter provisório, é resultado da socialização de algumas reflexões realizadas em um curso de curta duração sobre o tema. A proposta da pesquisa é compreender – dentro das possibilidades teóricas disponíveis em referencias especializadas - o movimento do religioso nas tramas da condição histórico-cultural contemporânea. O que se apresentará é uma síntese, devendo-se levar em consideração este aspecto durante a apreciação do conteúdo.
Como vêm a ser um estudo de orientação sociológica, voltado a um público de interesse particular, o teológico, é preciso delinear e demarcar as trilhas metodológicas que compõe o quadro de análise. Em correspondência com a opção já acima assinalada, o primeiro destaque diz respeito à observação do fenômeno desde a sociologia, em especial, à contribuição de pesquisadores alocados dentro das pesquisas atuais no tema. O segundo, também dito a pouco, direciona o discurso desde a pertinência aos estudos teológicos, ou seja, seleciona dentro do amplo campo posto os tópicos que contribuíram diretamente para o enriquecimento da reflexão na área.
Terceiro, dizemos “modernidade religiosa” em referência ao religioso em sua situação experimentada nos diversos contextos culturais na atualidade. Significa não falar de uma tradição religiosa em particular ou suas expressões em determinado contexto geográfico, mas sim, do fenômeno religioso nas várias formas em que se apresenta hoje pelo mundo, levando em considerando certamente as diferença existentes dos processos históricos de cada contexto. Por último, afirmar os alcances e limitações de um esforço como este. Devido o caráter extremamente complexo do assunto e ao tempo reduzido para sua exposição, seu tratamento é introdutório, vislumbrando um passeio panorâmico para novos e antigos interessados.
Um empreendimento nestes termos só se torna sensato desde quando persegue determinadas perguntas, questões norteadoras para as quais quer dar respostas. As inquietações aqui tomam quatro fórmulas que correspondem respectivamente com a sequência em que serão trabalhadas:

 
Problemática central
Temática discutida
Quais as transformações ocasionadas pela modernidade secular no campo religioso?
 
Os impactos da modernidade secularizada sobre a religião
Como se compõe a paisagem religiosa nestes tempos de mudança?
 
A paisagem religiosa fragmentada: o triplo movimento do religioso na contemporaneidade
Quais novos tendências religiosas se apresentam atualmente?
 
Mudanças e tendências no campo religioso atual
Como se configura a experiência religiosa nesta condição moderna?
 
Características e lógicas da religiosidade pós-moderna: os novos
 
Vale oferecer também uma pequena, mas rica, lista de refências bibliográficas selecionadas entre tantas outras fontes, dando prioridade a obras do gênero de "livros" de língua portuguesa e espanhola.
*Os outros textos serão liberados aos poucos, para "facilitar" a leitura.
 
Referências
BOBINEAU, Olivier; TANK-STORPER, Sébastien. Sociologia das religiões. Loyola: São Paulo, 2011.
GUERRIERO, Silas. Novos movimentos religiosos: o quadro brasileiro. São Paulo: Paulinas, 2006.
HERVIEU-LÉGER, Danièle. O peregrino e o convertido: a religião em movimento. Petrópolis: Vozes, 2008.
LIBÂNIO, João Batista. A religião no início do milênio. Loyola: São Paulo, 2002.
MARDONES, José María. Para compreender las nuevas formas de la religion. Spain: Editorial Verbo Divino, 1994.
MARTELLI, Stefano. A religião na sociedade pós-moderna. São Paulo: Paulinas, 1995.
MOREIRA, Alberto da Silva; OLIVEIRA, Irene Dias. O futuro da religião na sociedade global: uma perspectiva multicultural. São Paulo: Paulinas, 2008.
SANCHES, Wagner Lopes. Pluralismo religioso: as religiões no mundo atual. São Paulo: Paulinas, 2005.
VELASCO, Martín Juan. El malestar religioso de nuestra cultura. Madrid: Ediciones Paulinas, 1993.
WILLAIME, Jean-Paul. Sociologia das religiões. São Paulo: Editora Unesp, 2012.