por Victor Breno
1. Eixos e Formas do Diálogo Inter-Religioso
Segundo Sanchez, três pressupostos trazidos pela modernidade apontam para a necessidade de existência do diálogo inter-religioso: a ruptura do monopólio religioso, a pluralização de cosmovisões e a relativização das certezas[1]. Dada a impossibilidade de se descartar tais fatos, o diálogo inter-religioso constitui-se numa atitude fundamental de afirmação religiosa de relevância e convivência social.
O diálogo inter-religioso quer ser esse esforço de aproximação entre as diversas religiões, tanto no nível do discurso, como no nível das práticas, promovendo a convivência pacífica e a promoção da vida humana. Teixeira resume isso bem quando diz que:
O diálogo autêntico traduz um encontro de interlocutores pontuado pela dinâmica da alteridade, do intercâmbio e da reciprocidade. É no processo dialogal que os interlocutores vivem e celebram o reconhecimento de sua individualidade e liberdade, estando ao mesmo tempo disponibilizados pelo enriquecimento da alteridade.[2]
Seguindo ainda um breve roteiro de Teixeira[3], gostaria de sintetizar e sumarizar os eixos e formas do diálogo inter-religioso. Para que haja a possibilidade de diálogo, são necessárias algumas condições preconcebidas:
a) A consciência da humildade, que é aquela tomada de atitude interior individual não qual abrimos mão dos preconceitos e de qualquer tipo de presunção de superioridade e nos abrimos ao espaço do outro.
b) A abertura ao valor da alteridade também é de suma importância quando se quer levar o outro a sério. É na surpresa e na descoberta da alteridade que se pode aprender na diferença e compartilhar na igualdade.
c) A fidelidade à própria tradição é um dos elementos essenciais à aqueles que se empenham no diálogo. Não é possível que alguém vá a esse encontro com o outro desprovido das compreensões básicas da sua própria fé. Todavia, é a identidade aberta, que também está disponível a construção permanente pela dinâmica do diálogo.
d) A busca comum da verdade é o caminho de se tentar captar certos aspectos do mistério divino que ate então estavam despercebidos pelas tradições. É a busca conjunta de perceber, na maior densidade possível, facetas da realidade da verdade impossíveis de ser tomadas a não ser pelo diálogo.
e) A ecumene da compaixão deve ser o objetivo principal do diálogo. O compromisso ético e a promoção da vida humana devem ser os alvos a serem abraçados nos esforços contínuos pelas tradições. Fazer das religiões entidades humanizadoras e militantes com as causas sociais e de justiça.
Ainda seguindo Teixeira, três formas básicas em que o diálogo inter-religioso pode se concretizar:
a) O diálogo como cooperação religiosa em favor da paz: envolve as ações e colaborações em favor da sociedade e do humano. Também chamada de diálogo da vida, prima por propagar a justiça, a paz, a solidariedade e a compaixão.
b) O diálogo dos intercâmbios teológicos: a partilha e reinterpretação dos postulados teológicos por especialistas visando uma maior compreensão do mistério proporcionando novas alternativas e perspectivas a níveis da própria teologia da tradição, quanto aquelas que cooperam para o encontro inter-religioso.
c) O diálogo da experiência religiosa: acontece no nível da oração e da contemplação. Atitude de abertura ao encontro do mistério do outro e devoção construtiva e dinâmica no processo de maior relacionamento com o mistério e de transformação humanizadora individual e coletiva.
De fato o tema é bastante novo e um longo caminho se lhe apresenta pela frente. Obviamente os comentários apresentados não esgotam a amplitude do tema e faz jus a extensão do tema. Nosso caminho foi o de mostrar a importância e necessidade da reflexão teológica contemporânea sobre o pluralismo religioso.