sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Contradição teológica - Teologia é pecado/Uso teologia

Por Alessandro Arlan FLugel

Muitos já ouviram estas frases em suas igrejas, em conversas paralelas ou em outros meios. As frases são: “não precisa de teologia”, “não tenho hermenêutica”, “não tenho homilética”, etc.
Recentemente, ouvi uma pregadora no decurso de sua mensagem, em uma autoproclamação de sua humildade (?), declarar “não tenho teologia e não tenho hermenêutica”. Confesso que já ouvi isso muitas vezes, mas desta vez fiquei constrangido, tanto é que, ao final do culto, confessei a dois amigos que estava cansado disso. Ou seja, cansado de ouvir pessoas afirmarem dos púlpitos que o estudo não é importante.
Realmente, esta suposta pregadora não tinha teologia, pois ficou evidente na sua mensagem. Mas o fato é que, ela não disse que não tinha teologia e hermenêutica, no sentido de considerar importante tais ferramentas e não ter conseguido até então se apropriar delas. Pelo contrário, disse que não as tinha pelo fato de desconsiderá-las, de colocá-las até mesmo em um patamar de pecado.
Infelizmente, no meio pentecostal, se fomentou um forte anti-intelectualismo que perdurou por gerações e que em “determinados” lugares ainda existe. Muitos, preocupados apenas com a volta de Cristo e com a morada nos céus, esqueceram que estavam vivendo na terra. Deste modo, até mesmo o estudo secular foi reprimido.
A frase típica que servira como lema deste pensamento foi o texto da segunda carta do apóstolo Paulo a igreja de Corinto, capítulo três e versículo seis (parte final do versículo), que diz: “porque a letra mata, mas o Espírito dá vida”. Este versículo foi usado erroneamente para dizer que o estudo teológico formal não era necessário e que até mesmo iria minar a fé daqueles que empenhassem tal ato. Porém, como sabemos, o contexto do versículo mostra que a letra simboliza a Antiga Aliança, e o Espírito, a mensagem do Novo Testamento.
Em pleno século XXI, ainda encontramos declarações feitas dos púlpitos de nossas igrejas que passam uma mensagem de rejeição ao estudo formal. Pior ainda é o grande número de pessoas que são iludidos com estes jargões. Por exemplo, basta um pregador, durante sua pregação, dizer em um tom de seriedade que “não estudou teologia” ou que “não tem hermenêutica”, que grande parte de seus ouvintes vão ao êxtase. Entretanto, de todos aqueles que ouvi proferirem estas palavras, não ofereceram nenhum conteúdo realmente bíblico e edificante. Lógico, não incluo aqui aqueles que evidenciam em sua mensagem que a ação do Espírito Santo é superior a qualquer estudo, sem necessariamente desmerecer o estudo em si.
 Em tudo isso, o que mais me indigna é o fato daqueles que proferem tais palavras, as proferirem sem se quer saber que necessitam da teologia, mais ainda, que são agentes teológicos, mesmo que sejam “teólogos anônimos” (expressão utilizada pelos autores GRENZ E OLSON no livro: Iniciação à teologia/Editora Vida). Teólogos anônimos, pois todo ser humano já passou por momentos em que busca um real sentido para a sua vida. Nestes momentos, as perguntas existenciais são feitas facilmente e estas quase sempre nos levam a teologia. É normal as pessoas se perguntarem o que vai acontecer com elas após a morte ou se realmente existe um Deus. Ao fazerem isso, mesmo sem saber, estão teologando, ou seja, fazendo uso desta ciência chamada teologia. Em suma, as pessoas fazem teologia mesmo sem se proclamarem teólogos ou saber que o que fazem é refletir teologicamente.
De acordo com a antropologia, o ser humano é um ser religioso. Assim, tem intrínseco em si o ato de adorar uma divindade ou de responder questões quanto a sua própria existência. Segundo Ferreira e Myatt (Teologia Sistemática/Editora Vida), este sentimento religioso apregoado em todos os seres humanos é algo incurável. Com isso, reflexões teológicas são feitas a todo instante e em todos os lugares, mesmo que, os agentes teológicos, sejam anônimos e que suas reflexões não sejam compartilhadas.
Teologia não é tarefa apenas de teólogos de ofício. Por outro lado, há diferenças entre o exercício da teologia pensada pelo povo em geral, em relação à teologia elaborada por aqueles que são teólogos por formação. Ou seja, o cristão enquanto pensa sua fé faz teologia de um modo elementar, diferentemente do teólogo de formação que se apropria de ferramentas e métodos próprios para seu exercício teológico.
O fato é que, até mesmo aqueles que criticam o estudo formal da teologia e suas ferramentas, acabam por utilizá-la. Basta apenas um pouco de reflexão para concluirmos que todos nos necessitamos da teologia e daqueles que se dedicam ao estudo. Por exemplo, muitos declaram que não precisa saber grego e hebraico, porem se esquecem de falar que não “precisa saber grego e hebraico”, graças ao trabalho anterior de exegetas, linguistas, revisores teológicos e tradutores que dedicaram ate mesmo anos de trabalho no processo de tradução dos idiomas originais de compilação do texto sagrado para o nosso idioma. Se não fosse o trabalho destas pessoas, nem o texto em seu idioma – que mesmo assim em muitas vezes é lido e interpretado de forma errada – tais pessoas teriam para lê-lo.
Também, escutei muito no seminário e ainda escuto ou leio por aí, que o teólogo não deve se esquecer da Bíblia em detrimento dos livros, na prerrogativa de que alguns quando entram para o exercício teológico, acabam se distanciando da fonte de revelação Divina, denominada Bíblia. Sinceramente, nem considero esta frase quando a ouço ou a leio. Não que eu não considere a Bíblia Sagrada como fonte de revelação Divina, mas é que o “teólogo cristão” já parte do pressuposto que a Bíblia é o principal fundamento para seu exercício teológico. Ou seja, se há indivíduos que acabam por desprezar as Escrituras por outras fontes, eles podem até ser chamados de teólogos, mas não de teólogos cristãos.
Creio que já passou da hora de nos determos ao estudo comprometido com as Sagradas Escrituras, seja em estudo formal ou informal. O próprio Cristo nos disse, “conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (João 8:32). Em suma, são muitos os autores e textos que nos mostram a importância do estudo sistemático das Escrituras, mas este texto tem como objetivo mostrar as contradições daqueles que criticam o estudo, mesmo se utilizando deles.

Um comentário:

  1. Concordo com seu pensamento! Infelizmente os "teólogos leigos" não percebem que estão teologando sem se dar conta disso. Hoje em nossos dias tais ideais são bem vistos por alguns "pastores" que já foram corrompidos pelo dinheiro, onde não visam mais a salvação da alma, mas somente seus dízimos. As "vozes que clama no deserto", por mais que alertem a igreja, logo terão suas "cabeças cortadas", ao menos que se molde ao "sistema". A teologia liberta, revela e resgata a mensagem de Deus que para os nossos dia vai de encontro e desacordo com o interesse do sistema.Sou teólogo e por defender as verdade de Deus sou muita das vezes mal interpretado, tudo isso porque infelizmente os "sacerdotes" já tem muitas das vezes dissimilado seus ideais na mente da igreja leiga."conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará".

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