segunda-feira, 12 de março de 2012

# Teologia da Missão Integral - O lugar do labor teológico na busca por referencialidade missional


por Victor Breno

Assim como a igreja deixa de ser igreja se não for missionária, a teologia cessa de sê-lo se perder seu caráter missionário... Necessitamos de uma pauta missiológica para a teologia, não apenas de uma pauta teológica para a missão; porque a teologia, se entendida corretamente, não tem outra razão de existir senão a de acompanhar criticamente a missio Deus. (BOSCH, 2009, p. 589-590).

A teologia encontra na missão o nascedouro, significado e propósito. Justamente por isso faz-se necessário repensar-se os fundamentos nas quais a teologia repousa hoje visando sempre uma reflexão que tenha por objetivo a missão da igreja. A teologia deve ser o crivo interpretativo e avaliativo no processo de construção de um novo paradigma missiológico.
            Carriker (1992, p. 7) diz que “[...] a teologia consiste primeiramente de reflexão acerca da missão, não sendo esta mera aplicação conseqüente daquela, mas missão está no âmago da teologia.”
Em nosso meio, poucos são os cristãos que consideram a reflexão teológica indispensável para a vida e missão da igreja. Em partes isso ocorre pelo fato de que a teologia se profissionalizou e isolaram-na de outras disciplinas humanas, privando assim, que ela desenvolvesse uma concreção histórica. É necessário entender que a teologia só tem sentido se ela se mantiver vinculado ao modo de ser e agir da igreja.
O missiólogo Kirk (2006, p. 36) expõe que o mundo cristão se encontra no meio de um debate crucial sobre o relacionamento entre teologia e missão. Tradicionalmente, o estudo da missão tem sido tratado como uma disciplina no meio de muitas outras dentro do amplo espectrum do currículo teológico inteiro.
Ainda de acordo com ele, há dois tremendos obstáculos que a teologia deve transpor, no todo e em partes, antes de se transformar em uma teologia missionária. Primeiro, esta relacionado a confusão existente sobre a natureza da missão. Segundo, que as outras disciplinas teológicas tem se recusado a ver suas matérias como intrinsecamente missionárias.
Raiter (2006, p. 90), discorrendo sobre o isolamento da reflexão missiológica da grade teológica em geral, diz:

A grande tragédia para a missiologia moderna é que essas disciplinas que deveriam estar estabelecendo seus rumos e informando seu pensamento tem sido marginalizadas. Os estudos bíblicos e o pensamento cristão, em particular a teologia e a história da igreja, ocupam posições na periferia do pensamento do pensamento missiológico. Inversamente, disciplinas que deveriam aparecer como adjuntas ao curso, dignas de estudo e contribuindo com um pouco de sabedoria, mas sem qualquer status de autoridade e inapropriadas para determinar a natureza e o foca da missão, acabaram se tornando pilares e determinadoras do programa para o estudo e prática da missão.

            A busca de descrever a essência do estudo missiológico deve estar relacionada a compreensão da natureza e propósito da missão, bem como também o estabelecimento do estudo da missão como disciplina acadêmica. Raiter (2006, p. 91) ainda reitera que “a necessidade atual mais importante dos estudos missiólogos é trazer a disciplina de volta para seus fundamentos teológicos apropriados.
            O que vem a ser então uma teologia da missão que seja ao mesmo tempo teologia missionária? Uma boa definição nos é dada por Kirk (2006, p. 38):

A Teologia da Missão é um estudo disciplinado que lida com questões que surgem quando o povo da fé procura entender e cumprir os propósitos de Deus no mundo, tal como demonstrados no ministério de Jesus Cristo. É uma reflexão crítica sobre as atitudes e ações adotadas pelos cristãos em busca do cumprimento do mandato missionário. Sua tarefa é validar, corrigir e estabelecer sobre um melhor fundamento toda a prática da missão.

René Padilla (2009, p. 25), diz que “no que tange a vida e missão da igreja, não basta pragmatismo, ou seja, a ênfase no como divorciado do por que e do para quê”. Assim sendo, o labor teológico tem sua necessidade pelo fato de que sem a iluminação da Palavra, a ação se transforma em um ativismo sem direção. Uma outra razão é que a fé tem que se articular de tal forma que responda aos novos desafios e interrogações que surgem da situação do mundo contemporâneo.
Desse modo, Padilla (2009, p. 27) afirma:

Se a missão tem a ver com a manifestação do reino de Deus no mundo por meio da palavra e da ação da igreja para a glória do trino Deus, a teologia é a reflexão que quer colocar tal palavra e tal ação em consonância com o evangelho em cada situação específica.

            Por conseguinte, a falta de interesse de nossos cristãos é somente um sintoma da despreocupação com a fidelidade do evangelho e sua relevância para com a nossa missão. Então, segundo ele “[...] se toda a igreja é missionária e se a teologia é inseparável da missão, então a reflexão teológica é uma tarefa que compete a todo o povo de Deus”. (PADILLA, 2009, p. 28). Ele ainda complementa que “... a reflexão teológica não é algo optativo, algo que pode ou não estar presente na vida da igreja: é uma responsabilidade cristã inegável. ’’ (PADILLA, 2009, p. 119)



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