domingo, 25 de março de 2012

# O culto do simulacro


por Victor Breno
[resumo extraído do texto original - "O evangelho simulacro"]

Desde já algum tempo, venho gestando algumas reflexões no coração a respeito da igreja (religião/instituição). A grande maioria delas, decorrentes de inúmeras inquietações que recorrentemente violentam minha consciência, próprias de quem quer que seja que se coloque na peregrinação cristã de maneira participativa. No âmago das questões, se colocam pensamentos a respeito do que de fato está acontecendo nesse multiverso evangélico brasileiro. E para ser mais restrito numa postagem de blog, quero me referir aos ditos “cultos pentecostais” de maneira breve.
Bastar um passar de olhos no colorido mosaico das ofertas cúlticas para ser capaz de tipografar perfis de nossos “pregadores” e seus respectivos auditórios. As apresentações homiléticas das assim chamadas “pregações” pentecostais são marcadamente espetáculos estéticos de caráter performático. O que está em jogo é se os trejeitos do showman (pregador) conseguem, com seu discurso ufanista de autoajuda, estereótipo excêntrico e malabarismo exegético exercer o maior nível de manipulação sobre os auditórios infantis biblicamente e as espiritualidades subservientes.
Cada pregador é um pequeno cover, papagaio, dos best communications televisivos ou dos “ungidões” de congressos evangélicos, “missionários”. Geramos uma grande fábrica de pastores pré-moldados na onda sempre da última atração do momento. Pagamos malas diretas ao itinerantismo escrúpulo, ou quando menos, fomentamos a cultura entre os jovens das igrejas mostrando os dito cujos como referenciais de um ministério/profissão próspero. Afinal, o que importa é ter “unção”.
As experiências vivências pelos indivíduos nos restritos momentos cúlticos são quase que maciçamente de cunho sensorial, emocionalista e que fica apenas no campo da subjetividade. Estes estão em busca de sensações arrebatadoras aos domingos que as possam, uma semana a mais, anestesiar da rotina. Massas que brincolam à vontade com os bens simbólicos da religião esperando assim possam direcionar para si as “bênçãos” e afugentar as “setas” do capeta.
Destarte, o pragmatismo litúrgico proporciona o devido entretenimento para os seus membros-associados, com suas correntes canalizadoras, celebrações protocoladas e outros teatros semelhantes. Para não falar dos hedonismos maquiados (“quem está feliz com Jesus”), das místicas exotéricas e das crenças clandestinas que podem ser encontradas até mesmo nas figuras carimbadas há mais tempo no rol de membros, se é que isso ainda existe.
            Como se é capaz de inferir pela mínima associativa, os respectivos auditórios que acontecem dentro dessa lógica consumista (demanda/oferta) retroalimentam o esquema mercadológico que aos poucos, mas não menos agressiva, vão nos subjulgando ao desenvolvimento de religiosidades clientelistas. A grande máxima do jogo é: “o cliente é que manda”, raciocínio que também é seguido por qualquer RH de empresa comercial. Isso vale não apenas para os auditórios midiaticamente conhecidos, mas também para aquelas eclesiologias de manutenção que operam na lógica do “não vamos mudar, sempre foi assim” e, na sua versão tradicional, “não removereis os marcos antigos”. O evangelho é negociado até ser produto degustável aos públicos específicos e cada vez mais exigentes. 
            Nisso, a radicalidade do discipulado cristão explicito na narrativa evangelística do novo testamento vai ficando relegada a uma experiência de dimensão marginal dos movimentos ditos cristãos. Àqueles que se aventuram por vias perpendiculares as traçadas pelo consenso gospel sem dúvida alguma enfrentaram esbarramentos com o fluxo do esquema. E daí é que a gente se pergunta, e agora José?





3 comentários:

  1. Realmente, o que vemos é um evangelho feito de apresentações, com um perfil formado para que aqueles que almejam dedicar sua vida ao ministério sigam ou estarão de fora, triste, sempre visualizei desta forma, que Deus nos capacite a não estarmos nestes padrões e sim nos d'Ele.

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    1. Sem dúvidas Charles! temos a responsabilidade singular de assumirmos posicionamentos coerentes com a proposta genuína do testemunho histórico da nossa fé de maneira criativa e relevante. Que sejamos de Deus sinais do seu reino em nosso tempo!

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  2. Sem dúvidas Charles! temos a responsabilidade singular de assumirmos posicionamentos coerentes com a proposta genuína do testemunho histórico da nossa fé de maneira criativa e relevante. Que sejamos de Deus sinais do seu reino em nosso tempo!

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