segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Desenvolvimento psiquico da experiencia religiosa em adultos: anotações [PARTE 1]


por Victor Breno

Nosso objetivo é apresentar um panorama teórico a respeito do desenvolvimento religioso em adultos. Para isso, valemo-nos do pensamento de alguns estudiosos que têm formulado referenciais analíticos para a compreensão deste tema. Sem a pretensão de tratar o assunto com exaustão queremos expor considerações significativas das pesquisas atuais na área.
Um dos fenômenos que interessam significativamente aos estudos psicológicos sobre a religião é sem dúvidas o da “conversão”. Uma das preocupações centrais da psicologia da religião, desde o início desta disciplina até os dias de hoje, é o de entender os processos subjetivos, sentidos e razões psicológicas para este fato. Vários estudos vêm sendo feitos com o intuito de apreender seu significado profundo para o indivíduo.
Compreender este fenômeno não é só importante no que se refere a dimensão religiosa da vida, mas, como salientam os pesquisadores, grande parte do desenvolvimento da religiosidade está atrelada ao próprio desenvolvimento do indivíduo de uma maneira em geral[1]. Daí também a importância de entender esse elemento transversal do ser humano que é a religião como viés de análise do desenvolvimento dos indivíduos.

2 Pressupostos e categorias  descritivas para o desenvolvimento religioso

Interessantíssima são as considerações feitas por Amatuzzi sobre a transversalidade do desenvolvimento religioso como processo de amadurecimento e significação da própria existência[2]. Segundo o autor, o ser humano é alguém que tem uma tendência natural de saber a verdade sobre si mesmo. Essa verdade e sentido do indivíduo só são possíveis num horizonte de sentido e verdades mais globais.  O desenvolvimento religioso assim cumpre o papel de um dos caminhos evolutivo do eu.
Ainda segundo Amatuzzi, alguns desafios centrais surgem para o desenvolvimento pessoal, e que, se não trabalhados adequadamente, podem irromper em déficits na formação dos indivíduos. Queremos assinalar alguns deles: necessária transição de uma visão de mundo imaginativa, para a realidade dos fatos; passar do caráter egocêntrico para o das relações interpessoais; tornar-se ativo diante da construção da própria vida; passar para a intimidade dos relacionamentos, entre outros.         
Pondo a questão de outra maneira, apresentamos o esquema de Erikson[3], como pequeno esboço dos conflitos que caracterizam as crises psicossociais:

1.      Confiança básica vs. Desconfiança básica
2.      Autonomia vs. Vergonha, dúvida
3.      Iniciativa vs. Culpa
4.      Diligência vs. Inferioridade
5.      Identidade vs. Confusão de identidade
6.      Intimidade vs. Isolamento
7.      Generatividade vs. Estagnação
8.      Integridade vs. Desespero, desgosto

A fase adulta representa um grande desafio para os pesquisadores. Para muitos estudiosos atualmente, ela ainda representa uma grande incógnita. Apesar disso, não são os poucos os esforços hoje para compreender este grupo e grandes avanços vem sendo feitos a partir de diversas pesquisas.
Chegou-se a acreditar por um tempo que a etapa adulta era um período da vida estéril e estagnado no que diz respeito à dimensão da religiosidade. Todavia o que se mostrou evidente nos resultados de diversas pesquisas sobre esta faixa etária é a existência de um processo evolutivo dinâmico.
Segundo algumas perspectivas, a grande crise de religiosidade dava-se no período da adolescência e juventude, legando à fase adulta uma religiosidade crescente embora sem grandes mutações.  A partir de análises mais recentes pôde-se concluir que o ganho de identidade não termina com a fase adulta, mas, a religiosidade continua em pleno desenvolvimento agora se readaptando, seja por crescimento ou ajustes tardios, aos novos desafios da maioridade[4].
Clarificando as etapas do desenvolvimento da religiosidade na fase adulta, Riccards[5] nos oferece alguns estágios pelos quais esse processo acontece: primeiro é a etapa da reavaliação ( na qual os indivíduos se tornam mais passivos ou indiferentes a religião); etapa da determinação ( determinação em fazer da religião algo inerente a sua cosmovisão ou ao seu abandono); etapa da resignação ( diante dos dilemas aprofundados com a velhice, a religião ganha um valor significativo para dar sentido).


[1] AMATUZZI, Entre a necessidade e desejo, p.25.
[2] AMATUZZI, Entre a necessidade e desejo, p.33.
[3] ERIKSON, E. O ciclo de vida completo, p.52.
[4] ÁVILLA, Para entender a psicologia da religião, p.179.
[5] Apud, ÁVILLA, Para entender a psicologia da religião, p.179.


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