segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Desenvolvimento psiquico da experiencia religiosa em adultos: anotações [PARTE 2]





por Victor Breno




Outra grande contribuição no entendimento da dinâmica da religiosidade é oferecida por Fowler[1], descrevendo as etapas pelas quais a fé religiosa se desenvolve. O estágio zero é o da fé original. Serve de base para todos os outros estágios da religiosidade e funda-se na confiança emocional elementar desde o útero. Surge depois, na primeira infância a chamada fé intuitivo-projetiva.  Aqui, por via de assimilação dos comportamentos que o rodeiam, a criança passa a, juntamente com o seu caráter egocêntrico e da imaginação, fazer as primeiras pequenas sínteses religiosas baseadas nas proibições e diretrizes morais.
Um segundo estágio é a fé mítico-literal. Com a diferenciação entre imaginação e realidade, a criança é abre-se a perspectivas outras e a internalização do meio social. A criança deste grupo tem fortes tendências ao literalismo antropomórfico e a estreita moralidade. O terceiro estágio é o da fé sintético-convencional. Nesta etapa, no início da adolescência e com transição para o pensamento formal, acontecem assimilações e projeções sobre realidades adquiridas na experiência interpessoais e pelos referenciais de autoridade.
            O estágio quatro é chamado de fé individual-reflexiva. Acontece uma reflexão individual pelo adolescente onde ela pode relativizar o que recebeu, abandonando-o. Este jovem passa agora a articular por si só os significados simbólicos, assumindo com isso também a autonomia na construção de sua própria identidade. A fé paradoxo-consolativa é o quinto estágio.  É uma etapa não alcançada por todos e é caracterizada principalmente por um assumir-se diante da verdade religiosa, ou um profundo sentimento de solidão. O individuo é mais receptivo a outras realidades religiosas tomando consciência de que as ambigüidades das tradições religiosas podem ser integradas.
            Num último estágio está a fé universal. É por assim dizer o nível mais alto do desenvolvimento religioso, alcançado por pouco e que é caracterizado pelo “desenraizamento de si mesmo, por uma compreensão e uma valorização plena do universo e dos outros, e o vazio de si mesmo, num processo de comunhão radical que se manifesta numa opção pela justiça e pelo amor.” [2]
O esquema apresentado acima é representativo para descrever a seqüência evolutiva da religiosidade durante a vida. Queremos agora neste ponto, passar para as observações acerca da experiência de conversão.
O tema da conversão de adultos é central, como já falado anteriormente no estudo. Um dos pontos interessante na analise é o fato das crises de conversão. As teorias sobre este fenômeno podem ser agrupadas em quatro grandes grupos, como sintetizou Ávilla[3]: 1) predisposição de personalidade ( quando as experiências de vida levam ao indivíduo, pelas particularidades de quem é, a uma experiência religiosa); 2) busca de solução para um conflito pessoal ( uma forma de reorganização da vida superando dependências e deficiências); 3) a identidade e busca de sentido; 4) razoes sociais ( questões de dimensão econômica, familiar, cultural).
Outro grupo de resultados evidenciou também fortemente três tipo de conversão apontadas por Clark, no livro de Ávilla: crise definida, estímulo emocional e despertar gradual. Em outra perspectiva, Lofland e Skonovd propõe seis motivos para a conversão: a) intelectual; b) mística; c)experimental; d) afetiva; e) revivalista e f) coercitiva.

Buscando “amarrar” essa diversas tendências Ávilla novamente sintetiza o que para ele parece ser os grandes tipos de conversão: 1) aquelas provocadas por experiências dramáticas; 2) como solução para um problema humano; 3) provocadas por experiências místicas e 4) de despertar religioso[4].


[1] FOWLER, J. W. Estágios a fé – a psicologia do desenvolvimento humano e a busca de sentido, p. 100
[2] ÁVILLA, Para entender a psicologia da religião, p.181.

[3] ÁVILLA, Para entender a psicologia da religião, p.183-184.
[4] ÁVILLA, Para entender a psicologia da religião, p.189-192.

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