# "Escatomania"

 

por Victor Breno

A história da cristandade foi testemunha, nestes pouco mais de dois mil anos de existência, de um número incontável síndromes heréticas, dolências doutrinarias e tendências excêntricas. Uma dessas manias, que emerge novamente no século XX e que se tornou particularmente mais próximas de nós, é a da Escatologia.

O movimento pentecostal de que fazemos parte, justificadamente pelas suas raízes históricas, parece carregar no seu bojo a hipervalorização da escatologia sobre todas as demais doutrinas bíblicas gerando o que chamamos de “escatomania”.

            A grande questão que nos leva a reflexão não é necessariamente sobre a temática específica da escatologia, mais sim, sobre sua pretensa elevação excessiva como ideia substantivadora de todas as escrituras (entenda aqui escatologia segundo entendida pelo pentecostalismo). Ou seja, em vez de pensarmos a escatologia em relação ao restante doutrinário da bíblia, restringimos seu estudo a um tipo de geografia do além, moralismo legalista de uma ética celeste e passagem de escapismo.

Na teologia, quando se privilegia uma temática isolada da bíblia desconsiderando a lógica interconectora entre os outros assuntos, tende-se a uma elaboração doutrinária trucada e dissonante do real significado pretendido pelas escrituras. Essa teologia fará tratados de dogmatismos abstratos que nada tem a dizer para o lugar onde a igreja está inserida.

            Nossa crítica é que a escatologia trabalhada entre nós deixe de ser essa romântica idealização das interpretações apocalípticas e se torne revelação fonte de referencialidade missionária para ação da igreja no mundo. Ser labor de pensar a questão escatológica em sintonia com a realidade contextual.

            Uma teologia que pauta sua produção não pela agenda do contexto na qual ela é chamada a missionar, mas pela demanda interna da reafirmação identitária denominacional, nunca conseguirá exercer presença significativa no mundo. Ela precisa necessariamente, de maneira criativa e responsável, saber articular o conteúdo da fé com o chão-da-vida.

            Nossa oração e esforço é, comprometidos com o evangelho do Reino, fazer teologia, e escatologia, em sintonia com o grito do pobre, crítica à alienação eclesiástica e promoção da vida, onde o Espírito soprar.